Crônica

Rascunho #4


UM OUTRO TIPO DE POLÍTICO

Quando se fala em político brasileiro todo mundo (ou quase todo mundo) torce o nariz. “Tudo ladrão!”, dizem. Claro, generalizar não faz bem a ninguém, mas ao longo de nossa história é difícil não concordar. De qualquer forma, assim como tudo na vida, as maçãs podres sobressaem e aí você acha que tudo está estragado. Em 1996, passei um dia acompanhando, fotografando, um político. Era a campanha para a prefeitura de São Paulo e o candidato que eu deveria seguir era Luiza Erundina. Sou de esquerda, nunca escondi isso, e logo que me foi designada a tarefa abri um sorrisão.

Erundina havia sido prefeita de SP anos antes. Candidata do PT, era a primeira mulher e nordestina a comandar a principal cidade do país. Lembro bem que ela levou porrada de todos os lados. A oposição e até seu partido não deram folga em seus quatro anos de governo. Parecia, para quem só assistia televisão, que era o pior governo de nossa história (e depois tivemos Pitta, Kassab, enfim). Isso não era verdade, pelo menos, para o “povão” que votou nela. Eu era moleque e nunca no meu bairro tivéramos tantas linhas de ônibus como no governo dela. Pode parecer bobagem isso, no entanto, é o que conta, é o onde sentimos de fato o trabalho do prefeito. Ônibus a cada 15 minutos. Ponto pra moça.

Anos depois, a história do ônibus no meu bairro me veio à cabeça assim que a encontrei lá pelas sete da manhã. Ao longo daquele dia, visitamos favelas, quatro bairros da periferia, centros comerciais e era impressionante o apelo que aquela mulher tinha. Não havia gente nesses bairros pobres que não a abraçasse e recordasse seus tempos de prefeita. Ponto pra moça.

No final da tarde, Erundina chegou perto de mim. Deixou o segurança de lado e veio conversar. Claro, sou esperto, papo de político, certo? Mas não foi o que pareceu (sim, às vezes, sou ingênuo).

“Menino, não vi você comendo o dia todo. Toma aqui umas bolachas!”

Naquela época, eu ainda era um menino, mas aquela cena da ex-prefeita de São Paulo me dando bolacha e perguntando se eu estava bem foi marcante…

Erundina sumiu de cena. Não enriqueceu. Cumpre seu quarto mandato como Deputada Federal. Poderia ter sido mais!

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