RISCADO DO MAPA
Passou despercebido. Ninguém notou, cobriu o evento, mandou fotógrafo ou equipe de filmagem. Pelo menos, que eu saiba (você sabe?), o Ocidente não fez isso. Maldosamente chamado de “clássico de fome”, Etiópia e Somália disputaram na última quarta-feira o segundo jogo da luta por uma vaga na próxima fase da Eliminatória africana para a Copa 2014. Agora, responda, sobre a África o que não se passa despercebido?
Em agosto passado, a pior seca dos últimos 60 anos no continente colocou 13 milhões de pessoas em situação de emergência. Um mês depois, presidentes da Somália, Quênia, Djibuti e Etiópia lançaram-se a um “pedido desesperado” de ajuda financeira à ONU. Na ocasião, inclusive, outro número macabro lançado a quem estivesse disposto a ouvir: 750 mil pessoas da região conhecida como Chifre da África correm sérios riscos de morrerem de fome até o final do ano. Sabe a África? Aquele continente que se encaixa no Brasil? Cerca de 900 milhões de pessoas vivem nele, lembrou? Pois é, mas parece que não existe mais.
Mais números: 71% dos infectados com o vírus HIV estão na África. E aí alguém se mexe para mudar esse quadro? Se sabemos que mais de 500 mil pessoas morrerão de fome, por que não fazemos nada? Há algum tempo, li um artigo no qual o tiozinho dizia que 80% do mundo de hoje não fariam falta ao Capitalismo. Isso quer dizer que pouco mais de um bilhão de pessoas são suficientes para que o sistema econômico vigente continue sua vida. E o resto? É apenas resto? Quando penso em escrever sobre o continente africano, só chega à minha cabecinha que não entende as coisas um monte de perguntas (algumas, inclusive, já as fiz nesse rascunho). Foram mais de 400 anos de escravidão, depois um século de invasão e permanência europeia e agora nada. Nada! Como se 900 milhões de pessoas não existissem, não estivessem aqui vivendo, tentando sobreviver, sorrindo, amando. Um vazio no mapa e nada mais.
Não sei se você acha normal pensarmos nesse continente de forma tão distante. Eu não acho. Sabemos que as culturas brasileiras têm muito mais a ver com os africanos do que com os europeus, mas nós, em nossa ignorância de pequenos emergentes de um mundo novo, fechamos os olhos ou fazemos pensar que o problema não é nosso. É claro que algumas iniciativas existem. No entanto, são tão poucas, tão insuficientes tamanho o abandono de uma África inteira. Parte da fortuna de um desses homens mais ricos do mundo resolveria a questão da fome nesse lugar… e daí, não é? A tempo, a Etiópia goleou a Somália por 5 a 0 e ainda sonha com uma vaga na Copa do Mundo de 2014.
Bom, como você mesmo disse parece que essas 900 milhões de pessoas não fazem diferença para ninguém, com essa sociedade capitalista em que vivemos continuará assim por muito tempo, cada um mais interessado em ser mais rico e poderoso que o outro.