As torres gêmeas ainda estavam de pé.
O verão não era diferente de como sempre fora no meio dos Estados Unidos.
Aquela família era comum. Cristã, devota, temente a deus como todas são nos Estados Unidos da América, o berço da democracia, igualdade e justiça e hipocrisia…
Aquela mulher era comum, sem mais nem menos. Era uma mulher.
Aquele homem era comum.
Os filhos eram filhos como todos filhos pequenos e grandes são filhos.
Naquela manhã, o homem saiu de casa para trabalhar. Em casa, a mulher ficara com seus cinco filhinhos, como sempre. A menorzinha tinha seis meses. O mais velho, sete anos. A mulher enche a banheira para lavar a pequena. O telefone não toca. A TV está ligada. A mulher dedicara toda a sua vida a cuidar de sua família. Antes dos filhos e dos maridos, ela cuidou de seu pai até sua morte. Para ela, era fundamental servir os outros. Não havia o demônio em sua casa.
A mulher enche a banheira para lavar a pequena. Cheia, a banheira transborda e molha o piso. A mulher pega seu bebê e o coloca por inteiro na água. Assim o deixa, com seus olhinhos abertos até que não haja mais vida. Foi aí, então, que os olhos abertos da criança já não diziam mais nada. O mais velho flagra a mãe. Corre, ela o pega. Assim o deixa, com seus olhinhos abertos até que não haja mais vida.
A mãe é metódica. Faz o mesmo com os outros três filhos. Depois, embrulha cada um em lençóis, colocando-os em suas camas. Ela liga para o marido:
“Eu matei nossos filhos”
Presa, disse que era uma mãe má. Seu pecado, comentavam, era que ela era boa demais. Antes do fim, a mãe nunca levantara a mão para nenhum outro ser humano. Depois da morte do pai, ela havia tentado se matar de overdose.
“Não julguem minha mulher!”, disse o marido no enterro dos cinco filhos.
Quando ele volta para casa não há mais ninguém. Tenta dormir. Difícil. Quando consegue, sonha com a mulher que ama. Sonha que desta vez era ele que cuidava dela. Sim, desta vez ele percebera a dor de sua mulher. E nesse sonho, ela estava feliz de verdade, sorriso lindo, rodeada pelos filhos.