Quando todos os deuses morreram
Nada daquilo que disseram que aconteceria aconteceu
Raios não riscaram o céu
Crateras não engoliram o mar
Eu, do inferno, a tudo via com um sorriso cínico na cara
Poderia ter feito alguma coisa, mas não fiz, não quis
Que se explodam os Deuses, pensei
Maria acreditava em um Deus
Seu papai disse a ela:
“Nosso Deus é o único Deus e não há outro que te salvará quando o fim chegar”
De chupetas e chiquinhas, Maria não entendia as palavras de seu pai, mesmo assim as seguiu
De verdade, não havia para ela outra alternativa, muito menos Maria sabia que poderia escolher acreditar no que quisesse acreditar.
Maria tinha um só Deus e isso a ela bastava.
Quando a guerra na montanha mais alta do mundo teve início, a menina não imaginava ser algo tão sério. Ela sabia que seu Deus era forte, único e aqueles que queriam seu trono nada poderiam fazer.
Coitada da Maria, seu Deus não aguentou 24 horas de batalha
Mesmo assim, Maria rezava, rezava, rezava
A Fé de Maria era pura, iluminada e por mais que dissessem a ela “Os Deuses estão mortos”, fingia que não ouvia, que não seria possível um mundo sem seu Deus poderoso…
Um dia, Maria acordou,
percebeu um silêncio diferente,
mais profundo,
mais denso,
mais tolerante
afinal o silêncio não é todo o mal que existe no mundo…
Maria ouviu esse vazio de som e chorou
Chorou porque agora ela percebia que de fato toda a sua fé não levara a nada
O todo poderoso não tinha poder algum.
A consciência das coisas
Maldição
Quero a ignorância da fé cega
Quero a ignorância do não saber
Quero a ignorância…
A menina contra tudo e todos,
Contra o silêncio piedoso,
Contra as pedras que voaram contra seu rosto,
A menina rezou, rezou e rezou…
Sabia que dessa vez seria diferente,
Ninguém a ouviria, se é que em algum momento, a ouviram
Os céticos, os cínicos, os sobreviventes
Olhavam pra Maria
“Pobre menina Maria, enlouqueceu”
Quando todos esqueceram seus Deuses,
Maria, a louca, a crente, subiu ao céu,
E na montanha mais alta do mundo, Maria resgatou o corpo de seu Deus…
Velou-o
Enterrou-o
Abençoou-o
Ah, Maria, pobre Maria…