Crônica

RASCUNHO #5

CHORO FLAMENGUISTA
OU A CONSTATAÇÃO DE QUE O URUBU NÃO VOA MAIS
Mais que um desabafo, essas mal traçadas linhas apontam um fato: ver o Flamengo jogar é triste. Tal adjetivo poderia ser trocado por qualquer outro mais depreciativo. Não estou reclamando por causa de mais uma partida medíocre que suportei apenas ver um tempo. Essa constatação vem de longa data. Ser flamenquista nos últimos 20 anos não foi algo bacana, não me divertiu, não foi algo constante entre tantas variáveis desse mundinho estranho. Ah, claro, você pode dizer: “E os títulos estaduais?”, “E o brasileirão de 2009?”, “E Romário?”, “E Ronaldo?”, “e um monte de coisas?” Ok, mas foram exceções, acasos, sorte ou incompetência dos outros. Nada projetado, delineado, trabalhado. Os poucos sucessos (e sim foram poucos) não apresentaram um padrão, um modelo, para que outros seguissem, foram nada mais do que casualidades. Um torcedor de fato não pode se contentar com esse tipo de existência, não é isso que significa torcer por um time. Ou estou muito enganado ou pouco bêbado.

Eu sei apenas que de tempos pra cá ao ver o Flamengo no campo me irrito, não me alegro. Ao ver a camisa rubro-negra (belíssima diga-se) sendo usada de qualquer jeito me entristeço, não comemoro. Lá se vão mais de duas décadas. Só eu como flamenguista estou vendo isso? Estou ranzinza demais e as coisas são assim mesmo e ponto final? Poderia ter sido diferente? Fiquei mal acostumado com o Flamengo dos anos 80 e, portanto, essa sensação é meramente culpa minha? Isso significaria que o Mengo de agora é o que é e chega de esperar algo melhor?

Um monte de perguntas que ninguém faz questão alguma de responder. O Flamengo é uma instituição com mais de 100 anos de vida. Houve um tempo que treinadores, jogadores, qualquer um, queria fazer parte desse universo em vermelho e preto. Hoje, acumulam-se dívidas, péssimas administrações, jogadores de aluguel, treinadores de aluguel. Enfim, apenas coisas ruins que jogam o nome desse clube na lama. Tem camisa 10 nessa fase medonha que não treina. Zico era um dos primeiros a chegar e sempre foi a estrela da companhia. Não tinha frescura com ele. Hoje, bom, deixa pra lá, devo ser um velho chato mesmo que não consegue viver nesse estranho mundo e se adaptar ao show de horror que vejo sempre que ligo a TV. Uma pena.

Virei flamenguista com quatro anos de idade. Lembro que acabavam os anos 70, Zico era uma realidade, na verdade, todo aquele time que conquistaria o mundo em 1981 já era real. O que espanta no fato de virar rubro-negro é que eu nasci em São Paulo. Não sou do Rio, fui ao Maracanã uma vez apenas, mas abracei essa camisa como nunca. Era fanático mesmo, de chorar e fazer cara feia quando a equipe perdia qualquer coisa. Aí os anos 90 começaram, Zico se aposentou (nossa, ainda recordo do vazio no peito assistindo aquele jogo de despedida e minha sensação de impotência, chorei sentido aquele dia), Júnior também se foi conquistando o Brasileirão de 1992 e depois nada, nada, nada, nada, nada. Lamento se pareço exagerar, mas é só isso e uma vergonha atrás da outra que me faz a cada rodada querer mudar de time. É fato, vejo os torcedores do Napoli, Bilbao, do próprio Barcelona e lá não é a questão do vencer que importa e sim ser um TIME, ser algo de fato importante que marque sim a sociedade.

Ah, sei lá, acho que estou querendo demais e que eu fique quieto e pare de reclamar e não leve tão a serio esse tal de futebol. Mas, poxa, era “tão bonito ver o Flamengo no Maracanã”.

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