E você acha que eu me importo?
Não mais
Com nada, com ninguém, comigo
Então
Atira, atira
Bem aqui ó,
Bem aqui no “meio dos olhos”
Atira, vagabundo
Nunca sentido algum houve em qualquer coisa
Atira, por favor, atira
Tão cansado…
Soou como uma oração tão verdadeira que os anjos do céu baixaram suas cabeças de vergonha por causa do nada que haviam feito antes para cuidar daquele pobre miserável que seria filho de deus se esse existisse…
O homem do revólver nunca entendeu como a vida funcionava
Segurava sua ferramenta de trabalho como sempre
No entanto, dessa vez, desafiado por um fracassado, um perdedor…
Desafiado por aquilo que não era…
Nesse instante, o homem do revólver recuou, tremeu, relutou fazer aquilo que tão bem fazia
Então
O homem do revólver encarou os fundos dos olhos de sua presa
E o que viu? O que viu?
Atira
ATIRA
ATIRA, filho da puta
Nos fundos daqueles olhos
Nenhum brilho, alma nenhuma
Vazio somente
Se procurasse mais fundo ainda,
O homem do revólver ouviria o grito de milhões de demônios clamando pelo fim, mas ele só foi até o vazio e isso já era mais do que suficiente.
O arrepio de morte perpassa todo o corpo do homem do revólver
Ele tem como alvo, como um trabalho, como algo a ser feito alguém que já está morto
Morto, mas vivo
Um vivo quebrado, despedaçado…
Um zumbi… pensa o predador…
Como matar o que já está morto?
Dilema dilema dilema
Atira, covarde, atira
O homem do revólver ama seu velho 38. Por que uma automática? Uma bala, apenas uma. Meu velho e bom 38. Uma apenas é suficiente …
Atira, dessa vez, foi como suspiro lento, longo, profundo…
Silêncio
Um disparo
Sangue e pólvora, pólvora e sangue…
Vida que segue e assim é porque tem que ser e ponto final.